Amor - pois que é palavra essencial
Amor - pois que é palavra essencial comece esta canção e toda a envolva.Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,reúna alma e desejo, membro e vulva. Quem ousará dizer que ele é só alma?Quem não sente no corpo a alma expandir-seaté desabrochar em puro gritode orgasmo, num instante de infinito? O corpo noutro corpo entrelaçado, fundido, dissolvido, volta à origemdos seres, que Platão viu completados:é um, perfeito em dois; são dois em um. Integração na cama ou já no cosmo?Onde termina o quarto e chega aos astros?Que força em nossos flancos nos transportaa essa extrema região, etérea, eterna? Ao delicioso toque do clitóris,já tudo se transforma, num relâmpago.Em pequenino ponto desse corpo,a fonte, o fogo, o mel se concentraram. Vai a penetração rompendo nuvense devassando sóis tão fulgurantesque nunca a vista humana os suportara,mas, varado de luz, o coito segue. E prossegue e se espraia de tal sorteque, além de nós, além da prórpia vida,como ativa abstração que se faz carne,a idéia de gozar está gozando. E num sofrer de gozo entre palavras,menos que isto, sons, arquejos, ais,um só espasmo em nós atinge o climax:é quando o amor morre de amor, divino. Quantas vezes morremos um no outro, nu úmido subterrâneoda vagina,nessa morte mais suave do que o sono:a pausa dos sentidos, satisfeita. Então a paz se instaura. A paz dos deuses,estendidos na cama, qual estátuasvestidas de suor, agradecendoo que a um deus acrescenta o amor terrestre.
Autor: Carlos Drummond de Andrade
terça-feira, 5 de agosto de 2008
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